Saturday, April 30, 2011

Grito

Sonho e realidade se misturam. Cores e pessoas, imagens e lembranças. Tudo difuso em um grito aprisionado no peito.
Do peito aos poucos saem palavras, cobertas por uma respiração presa. O grito alto, agudo e grave perde seu som ao passar pelo peito, tão acostumado a aprisionar qualquer manifestação verbal. A voz sendo absorvida pela garganta migra para o cérebro que consegue agora traduzir o grito em palavras. Pela boca só se ouve o silêncio. Os olhos dizem mais. Dizem muito àqueles que entendem a língua da alma e pouco aos outros.
Estão cegos e surdos, infelizmente não mudos.
É necessário gritar.
O grito ao anoitecer ecoa nos sonhos. O caminho percorrido trava. Não é possível continuar percorrendo da mesma maneira. Paro, retorno. Busco o caminho por estradas, trilhas e linhas. Traço uma passagem pulando cartas de tarot. Só a queda é certa. Mergulhar nas profundezas do conhecido e criar novos percursos.
É difícil respirar.
A luz brilha na superfície da água, é necessário subir.
Subo, mas sem acordar, continuo nadando.

Wednesday, April 27, 2011

Poesia de Minuto













Tic Tac

sempre presente
uma das coisas mais concretas
e mais abstratas

pede paciência
aumenta a ansiedade

quando já se perdeu a esperança
o tempo aparece leve como uma pluma
e traz as respostas tão esperadas
que durante as alfinetadas do tic tac
pareciam carecer de uma eternidade

o tempo interno é às vezes mais veloz do que a demanda externa
às vezes mais devagar

na verdade, não há verdade
na verdade, não há tempo

lutamos
em contra tempo
numa guerra imaginaria
contra nós mesmos

Monday, April 11, 2011

A voz do silêncio

Mais uma vez sentada na mesma mesa. Como sempre se sentia estranha. Estrangeira em próprio território. Desconhecia os espaços, os limites. Vivia constantemente o conflito entre o interno e o externo. Entre o contato e a invasão. Queria se relacionar, mas só até certo ponto. Queria estar só, mas só até certo ponto. Queria estar bem só, queria estar bem junto.
Precisava estar só para saber quem era e quando se dava conta de quem era, queria compartilhar, mas a partir do momento em que não estava mais só, já não se lembrava de quem era, porque sob a presença do externo sua identidade se ocultava. Precisava estar novamente só para poder ser ela mesma.
Gostava de estar no estrangeiro, porque lá era normal se sentir estranha. As pessoas até lhe perguntavam sobre como se sentia a respeito da diferença, queriam saber sobre as diferenças e seu ponto de vista sobre as coisas. Ela se lembrava de sua casa na terra natal, lugar distante onde todos pareciam sorrir, onde todos acreditavam em sonhos, acreditavam em espíritos e no sentido esotérico das coisas. Mas agora se sentia perdida. Sua identidade que parecia antes tão forte, seus princípios e decisões haviam desaparecido, estavam diluídos nos rostos sorridentes de lembranças. Os rostos continuavam sorrindo, todos acreditavam ainda nos sonhos, mas pareciam não viver na realidade. Agora não sabia mais distinguir as fantasias da realidade, as lembranças pareciam velhas fantasias de infância. A realidade lhe parecia uma prisão.
Sonhava em voar. Parecia estar sonhando, não sentia mais o cheiro da terra, já não escutava a voz interna que ditava seus sonhos.
Sonho e realidade se misturam. Cores e pessoas, imagens e lembranças. Tudo difuso em um grito aprisionado no peito.

Friday, April 1, 2011

Du bist schön










ich sah dich
ich wusste es sofort

ich weiß nicht, was ich wusste
aber ich wusste es

jetzt sehe ich immer deutlicher
das, was ich gesehen habe

ich weiß noch nicht
was es ist
was es war

ich weiß nur,
dass das was ich spüre
sich verdammt gut anfühlt

ich weiß nur,
dass ich mehr davon haben
möchte

ich weiß nur,
dass ich dich liebe

(...)